Você já se pegou questionando se um gráfico estava sendo tendencioso ou não? Às vezes, o problema não está nos números em si, mas em como eles são apresentados. Vamos explorar um caso curioso que gerou polêmica no LinkedIn e entender como pequenas escolhas podem causar grandes interpretações erradas.
O gráfico polêmico do dólar
O post que deu início a essa discussão foi feito por Gabriel Lima no LinkedIn. Ele apareceu um gráfico mostrando a variação do dólar comercial entre os dias 7 e 14 de fevereiro. Os gráficos destacaram uma queda brusca do dólar no dia 14. Mas surgiu uma dúvida: será que essa queda foi realmente tão acentuada ou a escala dos gráficos distorceu a visualização?
Ao observar o gráfico, muitos leitores notaram que a escala não começava em zero. Isso fez com que a queda parecesse maior do que realmente foi. Alguns até lembraram do clássico livro “Como Mentir com Estatística” , que aborda exatamente esse tipo de manipulação visual.
Mas será que realmente houve um erro? Vamos analisar.
Entendendo o impacto da escala nos gráficos
Para avaliar os gráficos corretamente, é importante considerar o contexto. Em gráficos de variação, o que importa não é o valor absoluto, mas o quanto os valores flutuam ao longo do tempo.
Reproduzimos os gráficos no Excel para uma análise mais detalhada. A escala do gráfico vai de R$ 5,69 a R$ 5,80 — um intervalo pequeno que enfatiza variações sutis. Entre os dias 7 e 12 de fevereiro, o dólar flutuou em torno de R$ 0,03. Mas entre os dias 13 e 14, caiu R$ 0,07 — mais que o dobro da variação dos dias anteriores.
Esse tipo de queda é relevante e, mesmo que a escala não comece em zero, ela foi eficaz em destacar essa mudança.
O erro de interpretação comum
Muitas pessoas acreditam que os gráficos sempre devem começar do zero para evitar distorções. Mas isso nem sempre é verdade, especialmente em análises de variação.
Se o gráfico tivesse começado em zero, a queda pareceria quase imperceptível, apesar de ter sido significativa no contexto da semana comprovada. O ponto aqui não é manipular a informação, mas apresenta os dados de forma que as mudanças sejam visíveis.
Percentuais: uma outra perspectiva
Para complementar a análise, também visualizamos a variação percentual do dólar no período. Ao aplicar uma fórmula simples para calcular as variações diárias em relação ao ponto inicial, percebemos uma queda total de 1,68%.
Esse gráfico em percentual começou em zero (0%) e mostrou a mesma queda de forma proporcional. O curioso é que, mesmo mudando o formato de apresentação, o comportamento dos gráficos semelhantes, reforçando que o impacto visual inicial não era enganoso.
O contexto é tudo
A discussão no LinkedIn gerou opiniões divergentes. Alguns viram o gráfico como uma fonte de dados, enquanto outros argumentaram que ele era válido dentro do contexto. E essa é uma grande lição aqui: gráficos não podem ser isolados isoladamente . A escala, o período analisado e o propósito do gráfico influenciam diretamente a interpretação dos dados.
Por exemplo, quando olhamos índices como o Ibovespa em diferentes intervalos de tempo — de cinco dias até cinco anos — percebemos que a amplitude da escala altera completamente a percepção de alta ou baixa no mercado. Em janelas curtas, quedas parecem mais bruscas. Em períodos longos, as mesmas quedas se diluem em meio às variações maiores.
Comparando grandezas: outro cuidado importante
Vamos explorar outro exemplo para deixar isso ainda mais claro. Agora, imagine dois gráficos que comparam o preço de diferentes produtos, mas com escalas diferentes.
No primeiro gráfico, a escala foi cortada e começou em 60. Isso faz parecer que o Produto A é muito mais caro do que o Produto F. Mas isso não é verdade. O corte da escala cria uma ilusão de grande diferença onde, na realidade, ela é pequena.
Agora, quando ajustamos os gráficos para começar do zero, percebemos que a diferença entre os preços dos produtos não é tão expressiva assim. Esse exemplo mostra que, quando avaliamos grandezas absolutas — como o preço dos produtos — a escala precisa começar em zero para uma comparação justa.
Isso é bem diferente do que vimos nos gráficos de variação do dólar, onde o objetivo era destacar mudanças ao longo do tempo, não comparar valores absolutos.
Conclusão: o gráfico estava errado?
Uma resposta curta: não. O gráfico cumpriu seu papel ao destacar uma variação relevante em um curto período de tempo.
Porém, uma polêmica mostra como é fácil cair em interpretações errôneas quando se ignora o contexto ou não se entende os fundamentos por trás da construção de gráficos. Avaliar tendências, variações e escalas é fundamental para uma leitura precisa dos dados.
Portanto, antes de questionar a veracidade de um gráfico, questione o contexto. E lembre-se: um bom analista de dados não olha apenas os números — ele entende o que eles querem dizer .
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