A gente tem essa mania de transformar dezembro num tipo de “refúgio psicológico”.
É como se, por mágica, o tempo resolvesse o que a gente não teve coragem de resolver.
Mas o tempo não cura nada sozinho. Ele só empurra pra frente o que você ainda não quis encarar.
E aí chega aquele momento em que você percebe:
as mesmas pendências emocionais, os mesmos padrões de comportamento, os mesmos medos,
eles continuam ali, só que mais pesados, mais caros, mais sutis.
A cada novo ano que começa, você veste um personagem um pouco mais cansado e chama isso de maturidade.
Mas às vezes não é maturidade.
É acúmulo.
Acúmulo de metas não cumpridas.
De planos que ficaram só na cabeça.
De promessas que você fez pra si mesmo e não teve energia pra sustentar.
De expectativas que foram altas demais pra uma realidade que você não construiu.
E sabe o mais curioso?
A gente acha que o “fim do ano” é o fechamento de um ciclo.
Mas, na prática, ele é o espelho de tudo o que você fez (ou deixou de fazer) nos outros 11 meses.
Não adianta trocar de calendário se você continua fugindo das mesmas conversas difíceis.
Não adianta prometer “agora vai” se você ainda não entendeu o porquê de antes não ter ido.
Dezembro não é um recomeço.
É um acerto de contas.
É o mês que pergunta, com brutal sinceridade:
– O que você fez com o tempo que pediu tanto pra ter?
– Quantas vezes você confundiu movimento com progresso?
– Quantas vezes você se perdeu tentando agradar e se esqueceu do que queria construir?
– Quantas coisas você chamou de “cansaço”, quando na verdade era desalinhamento?
Você não precisa fechar o ano perfeito.
Mas precisa fechar consciente.
Fechar entendendo o que foi ciclo e o que foi fuga.
O que foi crescimento e o que foi repetição.
O que foi realmente escolha e o que foi só resposta automática à expectativa dos outros.
Porque o verdadeiro ano novo não começa em janeiro.
Começa quando você decide parar de terceirizar sua mudança pro calendário.
Começa quando você entende que não é o tempo que faz as coisas mudarem, é a forma como você decide vivê-lo.
Então antes de pensar no que vai fazer no próximo ano, pergunte-se o que ainda está te prendendo neste.
Porque se você entrar em 2026 com o mesmo medo, a mesma pressa, o mesmo autoengano…
vai ser o mesmo ano, só com outro número.
O fim do ano não é um reset.
É um espelho.
E ele sempre devolve exatamente aquilo que você escolheu não ver.
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